Winter Sleep (kis Uykusu)
Diretor: Nuri Bilge Ceylan
Elenco: Haluk Bilginer, Melisa Sozen, Demet Akbag, Ayberk Pekcan, Serhat Mustafa Kiliç e Nejat Isler
Um grande mérito de “Winter Sleep” é trabalhar de maneira minimalista os conflitos sociais e pessoais de indivíduos marcados por privações, honra e sentimentos de vazio em seus relacionamentos. Contudo, a abordagem teatral, por vezes é passível de certo esgotamento devido aos seus longos monólogos filosófico sobre existencialismo, inseridos nos seus 196 minutos de projeção.
Entretanto não podemos deixar de admirar a excelente direção de Nuri Bilge Ceylan (“Era uma vez na Anatólia”), tanto na condução desta “peça” quando no roteiro que realça tais conflitos e contando com um belo elenco liderando por Haluk Bilginer.
Aydin (Ceylan) é um escritor /ator de extrema inteligência, perspicácia e de grande influência na sua localidade. Contudo sua posição moral aos poucos vai sendo questionada, tanto pela irmã Necla (Akbag) quanto por sua jovem esposa Nihal (Sozen) - ao mesmo que lida como os hóspedes de pequeno hotel encravado nas montanhas aos arredores de Istambul.
Após um pequeno incidente envolvendo o filho de um seus inquilinos, dá-se inicio aos tais “embates” que aos poucos vai se tornando certa maneira uma simbiose entre seus envolvidos. Entretanto, com a firme atuação do protagonista não questionamos seus pontos de vista, por sua figura, mesmo soando de certa maneira arrogante, jamais deixa o público duvidar de sua posição.
O diretor é enfático ao dar a narrativa um tom teatral, pois com sua câmera praticamente parada todo tempo, deixa o público apenas como testemunha ocular dos conflitos – e assim contribuindo para o ritmo mais lento do filme. A fotografia vai criando aquela atmosfera aquecida como pano de fundo para aqueles personagens de relacionamentos frios e distantes. Assim como os planos médios a fechados estreitando o relacionamento entre eles (detalhe para o plano final homenageando “Doutor Jivago”, cuja duração de Winter Sleep é coincidentemente o mesmo do clássico com Omar Sharif, cujo ator é reverenciado numa foto, como símbolo de humildade).
Como um elenco que se destaca como um todo – que realça o bom roteiro – seria injusto mencionar exclusivamente um momento. Entretanto é valido ratificar a temática do diálogo entre Aydin e Necla cujas palavras (polêmicas) são diretamente ao próprio Aydin: É valido deixar o mal impune para que ele se arrependa de seus atos e assim não os cometa novamente.
Aydin por esta sempre tentando ficar acima do bem e do mal se encaixa perfeitamente em tal posição, ratificado por seu local de trabalho ser adornado por máscaras/Kabuki nas paredes, representando sua personalidade. Assim como o diálogo entre a esposa Nihal e Hamdi, onde a personalidade deste último é cativante: apesar de todas as dificuldades e pressão familiar se mantem sempre uma pessoa humildemente feliz, sempre evitando a todo custo o conflito para não magoar ninguém (Principalmente seu irmão Ismail, cujo código de honra fechará de maneira contundente, o ciclo daqueles personagens).
“Winter Sleep” é um filme que deve ser digerido aos poucos, e seu contexto não muito objetivo não é necessariamente um problema. Mas é compreensível que isso possa causar certa fadiga (intencional) para o público que presenciou este grande Teatro Turco.
Cotação 3/5