Anos Felizes
Direção: Daniele Luchetti
Elenco : Kim Rossi Stuart ,Micaela Ramazzotti e Samuel Garofalo
Dirigido e roteirizado por Daniele Luchetti, ”Anos Felizes”, nos conta de maneira delicada, a história de uma tradicional família italiana dos anos 70 com a lei do divorcio recém-aprovada, em volta as crises de um casamento abalado por traições e quebras de conceitos e problemas no relacionamento com filho mais velho que sofre com as desavenças dos pais. A narrativa de ”Anos Felizes” poderia soar demasiadamente comum (o que mesmo assim não tiraria os méritos), mas com a boa direção de Daniele Luchetti e atuação de seu elenco principal, o longa se apresenta satisfatório e ainda reflexivo dentro da narrativa proposta.
O filme tem seus méritos também pelo fato de alternar de maneira elegante e fluente a ação dos protagonistas que se entrelaçam sem jamais se perder o foco. A história se apresenta através narração em off feita pelo já adulto Dario , onde somos apresentados a sua família no passado : O pai Guido (Kim Rossi Stuart) , a mãe Serena (Micaela Ramazzotti) , e seu irmão caçula Paolo(Niccolo Calvagna), e é claro , ao próprio Dario quando jovem (Samuel Garofalo) , em uma discussão familiar a beira de um cais que terá sua conclusão no final do filme . E interessante notar, que durante boa parte da projeção ele quando criança sempre chamava os pais pelo nome, o que gera um afastamento e frustração, principalmente para a mãe, aumentando a dor dela, ao ver (principalmente em uma determinada cena em que estão na piscina) que seu filho não nutre o carinho que ela precisa.
Inicialmente o foco da historia é na figura do Pai, um frustrado artista plástico que não consegue obter uma obra com bons resultados nas críticas, e que ainda comete adultério, com as modelos que servem de base para suas obras (algumas em gesso, com explicitas metáforas sexuais). E que ainda, devido à traição, não permite a aproximação da sua própria família, tratando com rispidez e grosseria, o tornando um sujeito desagradável e de fácil desprezo do público. Ainda mais pelo fato de se comparar com Picasso, por exemplo, que tinha várias mulheres e que mesmo em um momento de um possível crescimento profissional, ele repete os atos desagradáveis com a família. E questionamos através do filme, o que realmente deseja o personagem Guido, uma vez que todos seus atos (mesmo violentos e errados) são aparentemente “baseados na sua missão artística”.
Neste cenário, ”Anos Felizes”, direciona ou acrescenta o foco para Serena, interpretada de maneira forte e digna por Micaela Ramazzotti, que ousa de corpo e alma literalmente, entrar no “círculo artístico do marido” para se sentir notada, o que provoca ainda mais o distanciamento dele. E entra em cena a personagem Helke (Martina Gedeke), uma feminista que vê uma oportunidade de ajudar Serena, levando-a para um retiro onde conhece outras ativistas e onde começam um relacionamento que jamais poderiam imaginar.
. Neste momento a direção e montagem nos oferece uma situação sensível ao mostrar Serena, feliz e se descobrindo através das lentas da câmera de mão recém-adquirida de Dario ajudada pela fotografia colorida, em contraponto ao marido, desiludido com o trabalho e a falta da família, e que recorre aos conselhos da mãe dele, a matriarca “Nonna” Marina (Pia Engelberth) que com toda sua sinceridade e pensamento desrespeitoso com a arte, tem grande importância da mudança de atitude de Guido. E principalmente pelo paralelo entre Serena e Dario, na perda de suas inocências, cada um a sua maneira e que terá enorme influência nos atos seguintes destes dois últimos (Serena que não se sente mais feliz ao voltar para o marido e rotina familiar Dario que simbolicamente deixou a infância para trás)
No terceiro ato os confrontos são inevitáveis e duros, onde Guido vê no talento do filho, e usado como manobra pela Avó do garoto, a chance de recomeçar sua carreira e se redimir com Serena, mesmo com a descoberta do envolvimento dela com Helke, através das filmagens de Dário que os julga pelo olhar , aguardando a solução da crise que se instalou e quem sabe a partir dali recomeçarem como família.
O filme termina com uma bela sequência que fecha os acontecimentos do inicio do filme no cais, onde Dario descobre que mesmo em momentos de crise e perigosos, e que leve a vida inteira para algo que talvez nunca consiga, ele tinha nas lembranças a felicidade que não sabia que pudesse ter.
Cotação :3/5
