Teorema Zero
Direção : Terry Gillian
Elenco : Christoph waltz , Mélanie Thierry , Lucas Hedges e Matt Damon
Após quatro anos de intervalo, o diretor de “Brazil”, Terry Gillian, nos apresenta em seu novo longa de ficção-científica “Teorema Zero”, uma sociedade decadente e miscigenda em um futuro não determinado (Inglaterra?), abordando questões religiosas e sociais (Onde tudo é proibido, desde passear com cachorro, atender um telefone ou beber em público mesmo que não se respeite muito). Onde impera o individualismo mesmo em uma festa (onde as pessoas ouvem sua própria música). Tudo moldurado em visual meio Blade Runner/ Ciber Punk colorido.
Neste cenário, conhecemos Qohen Leth (Christoph Waltz), um homem esquizofrênico, paranoico e com sérios problemas para socialização, inclusive avesso a um simples toque humano. E que sequer merece o respeito de ser chamado pelo seu nome corretamente pelo seu supervisor (David Thewlis), perdendo sua individualidade e que tenta a todo custo ter uma permissão de trabalhar em casa aguardando um telefonema, que poderia libertá-lo de sua “prisão metafísica”, e que usa um serviço psiquiátrico virtual (Que sofre intervenções da companhia), através da figura afetada de Tilda Swinton
E a única coisa que o mantém dentro de certa rotina é o seu trabalho como “triturador de números” na empresa Mancom, que como um governo totalitário, diz o que pode ou não ser bom para sua felicidade, e que te observa todo o tempo. Esta empresa é personificada no Management (Matt Damon) que o escolhe para levar adiante o projeto que dá nome ao filme, que basicamente tenta provar ou (des) construir um espaço-tempo “através” de buraco negro, e enviando as informações para a “Entidade”, uma maquina que funciona como Deus. Meio estranho admito, mas se levando em consideração o aspecto religioso é mais fácil de entender no final da história. E neste meio tempo ele conhece Bainsley, interpretada pela bela Mélanie Thierry que vive uma prostituta, mandada pela empresa como “ferramenta” de alívio para o protagonista em sua busca, e que usam o sexo virtual, idealizando o romance em uma praia, que mesmo levando em consideração de que seja algo virtual, a concepção estilizada soa artificial demais, aumentada pela caracterização de Christoph Waltz .
E é interessante que mesmo que este seja o único momento de felicidade, ele não consegue se entregar pelo fato deste “Buraco Negro” ser mais importante que o amor pela Bainsley, e quando ele quer dar vazão aos seus desejos, ele é interrompido literalmente pelo sistema. E ainda ele obtém a ajuda de Bob (um bom Lucas Hedges) como Hacker que tem grandes ligações com a empresa, e que ficamos sem saber realmente a intenção, se até mesmo ele existe ou não.
Todas as qualidades de “Teorema Zero” vêm mesmo da concepção visual do futuro em que se passa a narrativa e conflitos religiosos /existenciais que o protagonista nos apresenta. Detalhando um pouco do aspecto visual, destaque em particular para a residência de Qohen Leth, um antigo monastério, sujo, caótico, infestado de ratos e pombos, abandonado por monges, e vitimada por um incêndio, fazendo uma analogia talvez ao abandono do tradicional religioso confirmado pela criação religiões em profusão (existindo até uma religião “Batman”). E o fato de usarem uma fonte para lavagem de louça suja e principalmente (o que mais gostei) de ter sempre uma câmera na estátua em substituição ao rosto de Cristo.
No caso das abordagens e referências religiosas são mais discutidas no ato final, pelo fato do personagem principal buscar sua liberdade confrontando o controle estabelecido pela “Entidade” e a figura do dono da empresa interpretado por Matt Damon, que surge sempre como se fosse (ou é?) uma figura imaginária de Qohen Leth. E este é o estopim para o protagonista na sua escolha e decisão final sobre o domínio da entidade e todo aspecto para sua existência, como se tudo fosse uma provação de sua fé. E após este ato, o roteiro nos deixa pensando se a força do filme foi direcionada corretamente devido ao fechamento do arco com Bainsley ao som de Creed.
Finalizando, “Teorema Zero” não chega ser um filme muito invocativo ou que possamos analisar suas camadas (algumas simples) de maneira mais clara, talvez pelo tom rebuscado, mas não chegar ser um mau filme, pelo visual e pelo fato de que sempre é válido quando se confronta as instituições dominantes.
Cotaçao 3/5