A Culpa é das Estrelas (The fault in our stars)
Baseado no best seller escrito por John Green, “A Culpa é das Estrelas” tem como característica a identificação gerada pelos protagonistas. Com um toque sensível, o apreço pelo filme em si depende do grau de abstração que o público faz da história contada: uma adolescente com câncer e a sua relação com o ambiente que a cerca. A abordagem é calcada em tons de fábula, sem que realmente haja uma demonstração mais contundente dos desafios e dores dos envolvidos.
Essa característica não é inédita no cinema, tanto que tive idêntica sensação ao assistir ao filme “Os Descendentes”, com George Clooney: ao buscar transmitir a ideia que o sofrimento e as dores da perda independem do nível socioeconômico, cabe ao espectador mais que nunca– de acordo com a minha visão – o crédito da obra. Quanto ao sentido literal da doença, podemos citar como exemplo o belo e triste “Alabama Monroe”.
Através da narração in off feita pela protagonista Hazel – interpretada pela boa e expressiva Shailene Woodley que, coincidentemente também participou do filme de George Clooney – vivenciamos o seu drama pela luta contra o câncer desde a infância: o deslocamento e a carência pela falta de uma vida norma típica de qualquer adolescente que envolva namorados, um simples carinho ou conversas entre amigas. O seu drama é atenuado através do uso da mochila de oxigênio que carrega a tiracolo – que pode ser compreendido como um fardo que a impede de esquecer o seu constante sofrimento –, além dos pequenos tubos que a ajudam a respirar e que marcam o seu belo rosto.
No melhor estilho girl meet boy, Hazel participa de um grupo de autoajuda (muito a contra gosto) e lá conhece Augustus Walters (Elgort), um jovem ex-promissor esportista que, em decorrência do câncer, teve a perna amputada. Contudo, nada o impede de ser aquele personagem seguro e motivador com os seus amigos que passam por situação semelhante.O relacionamento deles é estreitado pelo confronto ideológico pois ele teme o esquecimento e ela é menos eloquente com relação a nossa existência.
Dos roteiristas Scott Neusdtadter e Michael H. Weber, o direto Josh Boone acrescenta metáforas na narrativa, tal como o uso do cigarro que simboliza a proximidade com a morte, porém não tem propósito. O interessante é a ideia de o diretor incluir referências – no caso uma cena de “Arquivo X” e outra de “Aliens” – com a finalidade de retratar o sentimento de exclusão e as diferenças que os protagonistas sentem. Assim, com a decisão de usar o recurso em que as mensagens trocadas pelo casal são jogadas na tela, moderniza a narrativa.
O tom de fábula torna mais claro quando Hazel – ajudada por Augustus, incluindo o uso de uma limusine – viaja juntamente com a sua mãe (Dern) para a Holanda a fim de conhecer o seu ídolo literário, podendo ser a sua única e última chance. Neste caso, o roteiro tenta dar um choque de realidade, principalmente quando os protagonistas são confrontados pela figura do escritor Peter Van Houten (DeFoe) que, apesar de expor o seu drama aos leitores, apresenta-se como um alcoólatra, arrogante, desiludido e sem qualquer objetivo na vida, a não ser o lamento pela sua perda.
Até este momento a atenção do espectador concentra-se na protagonista e a sua busca pelo seu lugar. Contudo, o roteiro assume definitivamente o seu lado romântico quando o casal finalmente se entrega ao amor nas belas paisagens do centro e rios de Amsterdã, em uma cena plasticamente bonita e delicada.
A passagem do filme torna-se particularmente bonita pelo fato do roteiro fazer um paralelo entre as histórias de Hazel e Anne Frank. Ao visitar a sua residência, o sofrimento da protagonista – assim como o da jovem escritora morta nos campos nazistas – está espalhado em todos os lugares, porém o seu sacrifício torna-se maior devido as suas condições físicas. Como estamos numa fábula, ela se entrega ao amor – com direito a aprovação pública – e ao sexo de uma maneira muito sensível, em que a sua doença e a deficiência de August são insignificantes.
O terceiro ato torna-se inevitavelmente constrangedor – o que não foge à regra do gênero, principalmente quando a atenção e os dramas mudam de foco, além das atitudes dos protagonistas –,porém em decorrência do carisma dos personagens, não chega a ofender os espectadores. Há momentos sensíveis tal como aquela cena em que Hazel ao ouvir o telefonema, e ciente da notícia que será dada, chora e a câmera lenta acompanha os passos dos pais da menina em direção a ela.Ou no discurso anterior diante do amado, em que Hazel mostra ainda mais madura e ciente da sua situação.
Comum a todos, a dor é inevitável. Ciente da curta estrada que deverá percorrer, Hazel tem nesta perda o aprendizado que valeu por uma vida inteira, em que jamais usou a doença como mecanismo de pena. E é assim que consegue atingir o público almejado, para o bem ou para o mal.
Cotação 3/5