Amantes Eternos (Only Lovers Left Alive)

Direção: Jim Jarmusch

Elenco: Tilda Swinton, Tom Huddleston, Anton Yelchin, Mia Wasikowska, Jeffrey Wright e John Hurt.

 

“Amantes Eternos” (Only Lovers Left Alive no original) é em uma história de romances e relacionamentos familiares através dos séculos, mostrado de maneira simples e com grandes doses de ironia. Para uma mente menos desatenta poderia parecer sem um objetivo comum, porém, na realidade, é o estudo de personagens diante de uma sociedade não tão atrativa como no passado.

E somos apresentados aos protagonistas de maneira ímpar, envolvidos numa atmosfera retro com um plongée girando como um vinil. Surge então a figura fantasmagórica de Eve (Swinton) numa Marrocos tão antiga e amarelada quanto ela: uma mulher que absorve todo o conhecimento possível e possui certa esperança com a humanidade. 

Paralelamente conhecemos Adam (Huddleston), um compositor que ao longo dos séculos se desaponta cada vez mais com os humanos – inversamente do que ocorre com Eve – que carinhosamente chama-os de zumbis. Adam ainda conta com a ajuda de Ian (Yelchin), humano e braço direito que serve de contato com o mundo exterior para conseguir, em troca de grandes quantias,seus objetos de desejo: antigas guitarras que fizeram história na música passando por munição revestidas de maneira.

Interessante como o diretor Jim Jarmusch consegue tratar a abordagem vampiresca dos personagens de maneira extremamente comum, como se realmente fossem reais dentro da nossa sociedade. Tudo isso sem perder a essência (coisas que determinadas sagas costumam fazer), como o fato dormirem durante o dia e usarem óculos escuros à noite, além do seu ar blasé, estacas e outras coisas comuns à classe.

E não podemos esquecer a sede de sangue. Para os vampiros modernos não chamarem atenção, evitam a todo o momento morderem pescoços alheios para saciarem a fome, principalmente devido ao perigo de contaminação, passando a usarem os serviços de bancos de sangue.No caso de Adam – ajudado por Dr.Watson (Wright) e Eve por Marlowe (Hurt) , uma especia de ancião eum idealista romântico.

O relacionamento e a dinâmica entre os protagonistas funcionam. Tanto Eve quanto Adam são personagens bem identificáveis, mesmo que sejam tão diferentes um do outro (ela usa Iphone e ele um gramofone), mas nutrem entre eles um respeito e paixão mesmo à distância, a ponto de tornar o reencontro como algo sagrado, puro e ritualístico, como no passado. 

O filme ainda trata um pouco de questões familiares com a chegada da irmã adolescente de Eve, Ava interpretada por Mia Wasikowska. Ela se mostra tão irresponsável como qualquer garota da sua idade, o que poderá trazer consequências drásticas ao casal.

O grande destaque de “Amantes Eternos” é a ironia e ambientalização do filme ao apresentar os seus personagens perante o mundo atual: Adam é infeliz, como dito no inicio, diante da sociedade que ignorou e ataca até hoje grandes nomes da história como Galileu, Newton e Darwin. Interessante também o fato de Adam e Eve usarem nomes de outras personalidades históricas (Faust, Fibonacci e Byron) para passarem despercebidos diante simples tarefas. Outro exemplo de sarcasmo involuntário está na lógica de Eve ao acreditar que cidade de Detroit, arrasada pela crise financeira de 2007, poderia reerguer-se por ter água, ou seja, totalmente indiferente aos acontecimentos.

Destacamos também a direção de arte e trilha que tornam o filme algo preso ao passado, época tão fértil e menos politicamente correto. Isso é refletido não somente pelas guitarras antigas, mas pelos seus equipamentos de som e TV da década de 50, além do estetoscópio da década de 60, passando por clássicos do rockabilly e dance music como “Funnel of Love”, de Wanda Jackson, “Can’t Hardly Stand It”, de Charlie Feathers e o “Trapped By a thing Called Love”, de Denise LaSalle (trilha sonora do amor de Adam e Eve) e a inusitada “Soul Dracula”, de Hot Blood.

Até o final da narrativa, “Amantes Eternos” se apresenta sem grandes saltos ou mudanças, ou seja, de maneira lenta. Como se fizesse – no caso o faz – um paralelo do espaço tempo dos personagens principais, que é completamente diferente do restante da humanidade, pois estamos lidando com figuras seculares onde o ontem é algo bem relativo.

No último ato os personagens se confrontam com os seus medos e fraquezas motivados por Marlowe. Mesmo que tenham que entregar a sua natureza jogada na face do espectador, o romantismo de certa maneira ainda é usado como razão para a sua salvação por toda a eternidade. E cabe a nós zumbis aprendermos um pouco com eles sobre conhecimentos e sentimentos, que abandonamos durantes os séculos.

Cotação 4/5