Interestelar

Diretor: Christopher Nolan
 
Elenco : , Anne Hathaway, Michael Caine, Jessica Chastain,Casey Affleck ,Wes Bentley,Davi Gyasi e Matt Damon
 
 

  Influenciado diretamente por “2001: Uma Odisseia no Espaço”, “Interestelar” é a obra mais ambiciosa de Christopher Nolan, abordando questões ambientais, destino da humanidade, viagens espaciais, paradoxo do tempo, teoria da relatividade, buracos negros e, até mesmo a religião. Em decorrência de tantos assuntos complexos tratados paralelamente, patina em trabalhar todos em conjunto, tornando a experiência um pouco confusa,fragmentando o impacto que se almejava, mas, ainda assim, abre espaço para a discussão e reflexão, o que é uma qualidade.

  No futuro e dez anos após uma calamidade de escala planetária envolvendo gravidade,uma humanidade desmilitarizada passa a se adaptar as mudanças climáticas e escassez de recurso naturais, sendo que o milho é um dos poucos alimentos que ainda resta (e não seria coincidência que os EUA são um dos maiores produtores).Assumimos, assim, o ponto de vista de Cooper (McConaughey): engenheiro e fazendeiro que busca tornar os seus filhos independentes neste novo mundo, em que a mão de obra agrícola é primordial para a sobrevivência da espécie, em detrimento de outras profissões ,principalmente da ciência, uma vez que as pessoas sequer acreditam que o homem tenha pisado na lua.

  O roteiro – elaborado pelo próprio Christopher Nolan em conjunto com o seu irmão Jonathan – trabalha bem a descrença da humanidade na ciência que deveria nos salvar, tal como o relacionamento entre Cooper e a sua então jovem filha Murph (Foy), que herdou do pai a aptidão para os estudos científicos.

  Também são inseridas pistas (algumas sobrenaturais) e que soam deslocadas, porém motivam os personagens até a sua explicação final. Coincidentemente, Cooper é chamado a ser o piloto responsável para conduzir uma aeronave espacial – construída por uma NASA regenerada e chefiada pelo Dr. Brand (Caine) –, juntamente com a Dra. Brand (Hathaway), Dr. Doyle (Bentley) e Dr. Romilly (Gyasi), através de um buraco negro para coletar dados que foram levantados por outras naves enviadas anteriormente a possíveis planetas habitáveis pela humanidade.

 Neste momento, o diretor insere as questões de fé x ciência, indagando “o que” ou “quem” teria direcionado coincidentemente Cooper para a base da agência, assim como as explicações sobre a Teoria da Relatividade e do Buraco da Minhoca (ou seja, que diminuiria o espaço de maneira tridimensional entre dois pontos, tornando o deslocamento entre o espaço-tempo possível). Constatamos que o tempo para os viajantes é diferente, sendo esse ponto de grande importância na base dramática da narrativa, principalmente no relacionamento entre pai e filha afetado pelo passar diferencial dos anos para os dois e a decisão dele de largar sua família em detrimento a salvação da humanidade.

 Reverenciando “2001: Uma Odisseia no Espaço”, o diretor fez o dever de casa e tornou as viagens espaciais admiravelmente belas, tal como o fato de não haver som algum nas cenas fora da espaçonave e o uso de inteligência artificial com um quesito visual mecanicalmente estranho (mas funcional), que interagem naturalmente com os humanos . De igual forma, as sequencias e o visual dos planetas – com seus ambientes hostis, inóspitos e assustadores –, assim como as sequencias no espaço, por mais que Nolan, em um problema recorrente , não tenha estabelecido a mise-en-scene corretamente em algumas tomadas. Tudo isso é engrandecido pelo som máximo da trilha elaborada pelo seu eterno colaborador Hans Zimmer.

 Após boa parte das quase três horas de duração, o longa tenta apresentar o perigo humano – como se não confiasse no público em apreciar apenas as teorias e questões suscitadas – na figura de Dr. Mann (Damon), que sobrevive em um planeta apto a abrigar a vida humana. O roteiro infla ao mostrar paralelamente a busca da adulta Murph (Chastain) pela verdade que envolve o projeto espacial e que o Dr. Brand omitiu ao mesmo tempo que entre em atrito com irmão mais velho(Affleck) que não acrescenta muita coisa na história.

 Diferentemente da obra-prima de Kubrick,“Interestelar” tem a necessidade de apresentar e explicar detalhes do processo, as teorias, as diferenças temporais, a razão x coração, além da conspiração, tornando o processo para o público nebuloso e desconexo, principalmente ao finalizar o elo dramático de Connor e Murph de maneira melodramática.Realmente não pude crer que poderia ser verdade.

 Mesmo com a conclusão e revelações feitas apressadamente, o roteiro apresenta soluções interessantes, tal como a questão acerca da multidimensionalidade, ou seja, tudo se apresenta como um ciclo ou looping, em que as respostas para a salvação da humanidade estão mais perto do que imaginamos , por mais que seja incompreensível para a ciência naquele momento.

 O diretor sempre se notabilizou por conseguir que os seus filmes – mesmo dentro do estilo hollywoodiano – apresentassem conceitos sólidos e fornecem ao público mais do que as cenas de ação(“O Cavaleiro das Trevas” e “A Origem”) angariando fãs no mundo inteiro, inclusive eu. Assim, acredito fielmente que “Interestelar” poderá render novas revisões e análises sobre todas as questões apresentadas,mas acredito sem engrandecer aquém do mostrado.

Cotação 3/5

 

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