Batman
Direção : Tim Burton
Elenco : Michael Keaton,Jack Nicholson,Kim Basinger, Robert Wuhl e Pat Hingle
Neste espaço que inauguro para falar de filmes mais antigos , escolhi o filme Batman de Tim Burton ,por ser fã do personagem e por aquele ano ter sido de grande influência na minha vida sentimental (que obviamente não contarei aqui).Portanto não poderia deixar de analisar o filme agora com olhos mais experientes do que de um garoto ,na época com 11 anos.
O longa de Tim Burton é até hoje considerado um dos maiores filmes de super-heróis já feitos ,sua grandiosidade não se resume apenas na bilheteria monstruosa para época e respeitável para os padrões de hoje (Mais de 400 milhões) ,que o deixou no top dez durante anos , atrás apenas do trio E.T,Indiana Jones e a Saga Star Wars. Fora dos bastidores, a polêmica comeu solta , principalmente depois que todos ficaram sabendo que , em uma jogada histórica de mestre,Jack Nicholson ,abriu mão do salário para ficar com parte da receita do filme . Resultado!? 60 milhões foram para o bolso do Coringa , se tornando o maior salário já pago a um ator .Coisa que Robert Downey Jr chegou perto com seu Homem de Ferro,mas que a produtora cortou logo depois mediante ao sucesso dos Vingadores.
E como não deixar de ser , a inédita campanha de Marketing do filme foi algo com jamais visto. Comerciais de TV caríssimos , bugiganga da Pepsi ( eu tinha uma coleção de copos), camisas , tudo elevado a décima potência , culminando com chave de ouro , ter a sua trilha sonora (a cargo do mestre Danny Elfman) interpretada por nada mais nada menos que a astro Prince vestido de coringa em um clipe que virou lenda .
Outra polêmica , foi a escolha de Michael Keaton para o papel principal.Comediante por natureza ,Michael Keaton deixou os fãs do homem morcego , com calafrios .E não para menos .O fãs de Batman finalmente teriam suas preces ouvidas ,depois de tanto tempo e com o sucesso decrescente da franquia do Superman , as portas para o Homem-morcego foram abertas , aumentando a expectativa de ver um longa de verdade do seu herói preferido na telona , se recuperando ainda da humilhante série de Tv dos anos 60.
E também pelo fato que o personagem passava por uma reformulação estética e ideológica , gerando HQ’s que se tornaram célebres (Cavaleiros das Trevas e Batman: Ano um). Mas ver tudo isso em um ator , baixinho , no qual as lembranças são aos do filme “Os fantasmas se Divertem”, era como subir uma escadaria de joelhos para descobrir que a Igreja e santo estavam errados . Mesmo com a chiadeira dos fãs, Tim Burton , bateu o pé e defendeu o amigo até o fim ,mesmo que o ator não tenha sido a primeira escolha (Reza a lenda que Mel Gibson e Pierce Brosnan foram cotados) dizendo que buscava alguém “normal” para uma identificação com o público (!!?) . Enfim ...
E chegamos no filme em si . Bem, se hoje temos , a trilogia de Christopher Nolan para nos levarmos ao nirvana , quase vinte anos antes , Tim Burton talvez seria o nome certo para o filme.Com sua origem em animação e influências do expressionismo alemão e estilo gótico , visto no seu trabalhos anteriores e posteriores, ele seria a aposta para o casamento perfeito . Mas claro nem tudo são flores , talvez sua inexperiência ou a falta de uma direção mais firme prejudicaram o filme em seu ritmo,o roteiro de Sam Hamm trabalha bem os aspectos do personagem , tem um boa premissa do herói e faz referências as origem do Coringa, da HQ Batman : Ano um mas,cometeu um erro antológico: atribuiu a origem do Batman ao coringa e vice-versa (“Você nunca dançou com o demônio sob a luz do luar?”),comprometendo profundamente a essência do herói.
Um ponto que me incomoda cada vez que vejo é a escalação do elenco de apoio. Temos uma Kim Basinger fazendo papel de.... Kim Basinger ,sem química alguma com o protagonista ou com ninguém , um Chatíssimo Robert Wuhl no papel de repórter apaixonado , Pat Hingle em um comissário Gordon descaracterizado , subutilizado não fazendo falta alguma , assim como o Eterno Lando Calrissian de Star Wars , fazendo um Harvey Dent (também descaracterizado) que somente estava ali para os fãs e talvez para ser aproveitado para um futuro Duas caras (o que não aconteceu). Em contra partida tínhamos o simpático ator Michael Gough emprestando sua experiência a serviços do fiel mordomo Alfred , que deu ao personagem a dignidade e altiveza necessária .
Enfim chegamos aos protagonistas. Se Michael Keaton , apesar de esforçado , não convence muito com Bruce Wayne , como Batman admito que o defendo de quem queira falar mal dele . Com o posicionamento de câmera , ajudado pela fotografia esfumaçada e sombras que o deixam sempre na penumbra (decisão da direção para esconder as limitações da roupa e a altura do ator) ele transmite a seriedade , e é assustador e convincente na medida do possível .
Pontos também para o ator que usou o mesmo recurso que o Batman de Christian Bale usou: Alterar a voz e sua psique quando incorporado ao Herói .E chegamos ao Coringa de Jack Nicholson com a interpretação icônica , que caiu como uma luva para o ator que nem precisaria de maquiagem para transmitir a insanidade do personagem .Mas contudo , sabíamos a todo o momento que era o ator (mesmo detalhe em O iluminado) e não o personagem que víamos em cena .
Como toda grande produção , Batman nos apresentou uma aglomerada e sombria Gotham City , com seus prédios altos , catedrais com estilo gótico e atmosfera sufocante, se apoiando na direção de artes quase teatral , abusando de planos fechados e clima noir (Características do Diretor). Mesmo que o tom soe como uma fábula e estilizado, não podemos de deixar de entender a decisão do mesmo, por este ser seu estilo de direção e abordagem . Temos que mencionar o mítico Batmóvel , com seu visual futurista , mas sem destoar na proposta do filme , passando pela Bat-Caverna High-Tech e icônica cena de Batman adentrando o museu pelo telhado gerando a engraçada cena do Coringa (“Onde ele arruma estes brinquedos”). E é Claro o Batwing , que é protagonista da melhor sequência do longa , fazendo alusão ao símbolo do herói na lua , antes do atacar o coringa e seus balões nas ruas de Gotham City .
Batman de Tim Burton merece nosso respeito e acredito ter sido uma boa estreia para o personagem na tela grande , apesar dos seus defeitos no roteiro (alguns graves) equívocos e situações que poderiam ter sido evitadas ou melhoradas ,Batman inaugurou de verdade a era de super-heróis nos cinemas , e mesmo com as desgraças seguinte (Batman Eternamente e Batman & Robin) os erros foram assimilados para que hoje , os fãs possam dormir sossegados, para qualquer problema pegar o DVD dos Filmes de Christopher Nolan e assistir , imaginado que o caminho percorrido pelo personagem foi árduo mas redentor .