Sindicato de Ladrões

Ano: 1954

Direção: Elia Kazan

 

Elenco: Marlon Brando, Karl Malden, Lee J.Cobb, Rod Steiger e Eve Marie Saint.

 

     Para mim, após assistir pela primeira vez “Sindicato de Ladrões”— através daquela tia velha que ficava gravando filmes antigos—fiquei com a sensação não somente ter visto um grande filme—e começado a desfazer meu preconceito com longas em preto e branco—mas um dos melhores longas metragens que minha lembrança alcançava se tratando de um clássico.

     Os motivos eram muitos — ainda são — para minha inexperiente mente cinéfila, mas de imediato não pude deixar de apreciar a ótima direção de Elia Kazan e claro a atuação de Marlon Brando—ambos premiados com Oscar.Quando escrevo que o filme é admirável, falo por além de um drama conflitante—pelos dilemas entre personagens e as questões religiosas— o filme ainda trata de maneira crítica as condições dos trabalhadores, a corrupção na categoria influenciada pela máfia e uma pitada de filme de tribunal.

     Fora dos bastidores o clima não era dos melhores – o que comprova a competência dos seus realizadores. O elenco – principalmente Brando – deixava claro que Kazan era persona non grata devido o envolvimento do diretor com o Macarthismo e as denúncias feitas por ele. Isso de certa maneira ajudou a engrandecer o filme ainda mais. Impossível não associar tal situação com o dilema do protagonista, infiltrado pela máfia no grupo de resistência, mesmo indo contra seus amigos e categoria.          

     O cenário apresentado por Kazan é admirável e ao decorrer do filme nos sensibilizamos com Mallory (Brando): um ex-pugilista fracassado trabalhando no porto de Nova Iorque a serviço da máfia local encabeçada por Johnny Friendly (Cobb) que tem grande apreço por Mallory, principalmente por seu contador, ser irmão mais velho do jovem lutador.

     A interpretação de Brando é digna de aplausos. Interpretando um jovem que cresceu a margem da sociedade, sem estudos, e que seu único passatempo é seus pombos de corrida, no alto do prédio como se fizesse uma metáfora a algo que ele não pode fazer mais: voar. Sendo os únicos sinais de seu passado quase glorioso, as próprias lembranças, os olhos marcados pelos anos de luta e seus nuances de pugilista incorporado trejeitos — algo parecido como Stallone fez em Rocky.

     Em contra partida tempos o Padre Barry (Malden)— uma das figuras mais fortes do filme—, usando a igreja como escudo, tenta a todo o momento convencer os trabalhadores denunciarem a corrupção e o abuso e injustiças no trabalho. Em uma das melhores cenas do filme, Barry questiona a moralidade e sacrifícios mediante ao corpo de uma das vítimas da opressão da máfia.

     Fiquei realmente encantando com o desenvolvimento dos personagens e seus dramas—comprovando a boa direção de Kazan e do roteiro de Budd Schulberg—sendo difícil enumerar todas as boas cenas. Através deste filme podemos ver também a estreia de Eva Marie Saint (“Intriga Internacional”) nos cinemas já com 30 anos de idade como a doce Edie Doyle, vivendo entre o amor por Mallory e a dor pelo mesmo ter participado da morte do irmão dela e ainda tendo que absorver o sofrimento de seu velho pai.

     E se conflitos são o pontos fortes do filme, como não se comover quando descobrimos a real ligação de Mallory com Charley (Steiger), quando este último foi o responsável pelo seu fracasso profissional onde Mallory poderia facilmente ter vencido uma luta e conquistado a chance de ser o campeão, mas que abriu mão da vitória em nome da ganância do irmão (“Eu poderia ter sido o campeão”). A sequência é particularmente interessante, pois mostra a grande habilidade de Kazan no “Mise en Scene” perfeito para tirar o melhor da cena — câmera fechada e espaço diminuto aumentando a tensão entre os personagens.

    Estas características de Kazan são demonstradas em vários outros momentos do filme como as cenas que ocorrem mo tribunal, as reuniões da máfia em um pequeno casebre no porto, do caminhão perseguindo Mallory e claro o embate final no porto entre Mallory e Johnny.

    E antes de fechar as portas, o filme nos apresenta outra grande sequência, onde agora o determinado Mallory, incentivado pelo amor de Edie e a força moral do padre Barry ele enfrenta tudo e a todos pela sua redenção e dignidade, mesmo que aquilo custe o desprezo de alguns ou até a própria vida.Filmaço.