Spotlight

Direção: Tom McCarthy

Elenco : Michael Keaton, Rachel McAdams, Mark Ruffalo, Brian d’Arc James , Liev Schreiber, Stanley Tucci e John Slattery

Como denunciar crimes de abuso praticados por membros de uma instituição como a Igreja Católica, poderosa e com ramificações em todas as esferas sociais e políticas? Como encarar estas pessoas, que dizem ter “Deus no coração”, mas que demonstra sérios distúrbios que os motivaram a praticarem um crime grotesco em escala jamais mostrada? Padres que se aproveitam da fé alheia dos adultos, da pobreza da comunidade e da inocência das crianças para cometerem tais crimes - onde muitos foram transferidos ou afastados pelas altas esferas dentro da própria ordem religiosa apenas para acobertar seus atos.

Spotlight remete imediatamente ao clássico “Todos os homens do Presidente” de Alan J. Pakula, que assim como o filme de 1976, também surge como exemplo de jornalismo numa época em que profissão cada vez mais se torna cúmplice e seletiva em suas denúncias. Dirigido por Tom McCarthy e roteirizado em conjunto com Josh Singer, o longa é baseado em fatos reais quando o Jornal “The Boston Globe” noticiou os abusos sexuais cometidos por dezenas de padres no nos anos 90, todavia devido a influência da Igreja, o assunto não foi divulgado ou sequer teve seus desdobramentos investigados na época como deveriam (os chamados “Suítes” no jargão jornalístico).

Rob Robinson (Keaton) é o redator chefe do departamento homônimo e por ser independente, são incumbidos das investigações sobre as denúncias depois que o novo editor chefe Marty Baron (Liev Schreiber, discretamente ótimo com sua postura e voz serena) decide que o assunto deveria ser apurado detalhadamente diante de tantos fatos e provas. A equipe é completada por Rachel McAdams, Mark Ruffalo e Brian d’Arc James. Portanto, era mais que necessário que estes elementos fossem bem identificados diante do público; e a direção consegue fazer isso de maneira competente, por tornar cada um deles numa faceta heterogênea para a personificação dos conflitos que as investigações trazem.

Assim, Rob (Keaton) fica dividido entre a comunidade no qual é respeitado e suas ações como editor, Sacha (McAdams) vive com receio da recepção por conviver num núcleo familiar católico e as consequências das denúncias, Matt (James) preocupado por ter filhos pequenos e estes serem principais vítimas do abuso e por último Mike (Ruffalo), que por não ter uma ligação familiar forte, deseja a todo o custo punições imediatas, o tornando  quase um protagonista do filme por ser o agente que move a ação.

Contanto com uma estrutura investigativa e simples, a direção jamais deixa o espectador confuso ou perdido no decorrer dos anos. As informações são passadas de maneira clara sempre fazendo a narrativa avançar ao incluir os depoimentos das pessoas ligadas aos casos e as próprias vítimas (vítimas estas sempre mostradas com sérios transtornos de ordem social, frágeis, inseguras e instáveis por terem suas vidas destruídas). Contudo, nada mais revoltante constatar através destes depoimentos que, para alguns, os atos são encarados com um acontecimento banal, corriqueiro e conivente.

A montagem demonstra de maneira interessante a dispare entre os jornalistas e o poderio da igreja, como por exemplo, na cena durante uma recepção de luxo com a nata da comunidade de Boston, a direção corta para um plano imediato entre Mike e Mitchell (Tucci) comendo num lugar simples, gerando o contraponto ideal. E o foco do roteiro na questão do próprio jornal admitir certo menosprezo , uma mea culpa pelo desleixo no passado são muito bem vindos e que valoriza ainda mais os atos futuros do envolvidos por ser tal atitude algo muito incomum no meio.

Enfim, ao analisar o contexto é triste depois tudo sentir que a igreja foi obrigada a admitir os crimes cometidos por seus integrantes, mas sem conseguir impedi-los de que aconteçam novamente. Portanto, deve-se ainda mais reconhecer a determinação e a imparcialidade daqueles jornalistas que enfrentaram um poderoso adversário e principalmente as vítimas que sofreram e as que infelizmente ainda sofrem com esta agressão covarde e repugnante.

Cotação 5/5