Golpe Duplo (Focus)

Direção: Glenn Ficarra e John Requa

Elenco: Will Smith, Margot Robbie, Adrian Martinez, Gerald McRaney e Rodrigo Santoro.

Antes da sua estreia, o trailer de “Golpe Duplo” (tradução horrorosa e genérica) me chamava à atenção por não conseguir passar de maneira clara qual seria exatamente o estilo do filme, uma vez que vários deles se misturavam de maneira pouco orgânica. Entretanto, por respeito ao longa, jamais devemos tirar qualquer conclusão sobre uma obra devido ao seu trailer. Mas tal recíproca que o espectador deve ter com tal produção estrelada por Will Smith e com a participação de Rodrigo Santoro é brutalmente ignorada pelo filme com relação ao público. Com atuações preguiçosas, um roteiro desastroso em seu conteúdo e estrutura (por vezes preconceituoso) qualquer tentativa de criar um clima que seja é sistematicamente perdido.

Nick (Smith) é um líder de um grupo de ladrões de luxo que vive de pequenos furtos de itens como relógios e também de altas apostas (que sabem que sempre ganharão) com incautos milionários. Mas durante um destes golpes ele conhece a bela Jess (Robbie) que possui um talento nato para bater carteiras, chamando assim sua atenção. Neste início já se percebe que os diretores (Glenn Ficarra e John Requa) tentam conferir um clima "Onze Homens..." incluindo na trilha sucessos dos anos 70, entretanto fica evidente que a falta de sintonia no envolvimento entre Nick e Smith é um problema. Tal cenário é mais agravado por diálogos óbvios e cheio de clichês, como os “ensinamentos” que Nick passa a jovem: “A mente deve ser mais rápida que os olhos’’, " Você chama atenção com uma das mãos e pega com a outra”. Outro grande exemplo dos diálogos absurdos e idiotas do roteiro, se dá quando certo personagem diz num momento de tensão : “Tenho um cabelo embaixo do meu saco que arrepia quando sinto perigo...” (oi?)

A sequência que demostra a habilidade do grupo de Nick (que nunca fica claro quem ou quantos são) foge a lógica pela inverossimilhança, por em tão pouco tempo os envolvidos executarem de maneira cirúrgica os roubos das carteiras e relógios alheios (um deles com auxilio de um Hashi) de maneira quase mediúnica. Podemos no entanto fazer apenas uma ressalva ao ótimo Adrian Martinez que com jeito desleixado se diverte com seu Farhad.

Não bastasse a falta de um bom roteiro (escrito pelos próprios diretores) a direção obviamente segue o padrão falho e incoerente. Além de não evoluir nem como um filme de roubo (como tantos outros), as poucas cenas cômicas a cargo de Will Smith (no automático) não funcionam – assim como o drama entre Nick e Jess é algo com quem o público jamais se importe com seu andamento, por falta de identificação com o casal.

Outro grande exemplo do desastre é durante sequência ocorrida numa partida de futebol americano. Se, mesmo que por alguns instantes, sentimos realmente que o protagonista esta sendo levando pelo impulso do vício, tudo é completamente destruído de maneira risível pelas explicações para tais atos. Neste momento a direção comete tal absurdo que qualquer espectador médio percebe: a direção usa a trilha sonora não diegética (que não faz parte daquele mundo) como resolução da cena de maneira descarada – depois disso nunca mais escutarei “Sympathy for the Devil” da mesma maneira.

No seu terceiro ato - filmado em Buenos Aires  e contando com Rodrigo Santoro - o desastre continua a ponto de parecer outro filme (isso não foi elogio). Assim, o ator brasileiro tem aqui talvez um dos seus pontos baixos de sua carreira internacional ao interpretar um empresário do ramo de corrida : excessivo no seu gestual, sotaque estranho e por vezes caricato, o ator parece realmente incomodado com o papel.

Em nenhum momento o espectador fica ciente da importância e objetivos dos personagens, e o próprio roteiro sabota e desrespeita a inteligência do público por se contradizer na maior parte do tempo por tomar resoluções forçadas ou apenas porque lhe convinham – como visto na revelação sobre o passado de Nick e as intenções de Jess com Garriga (Santoro).

Neste momento a trilha sonora - mais uma vez -  é usada de maneira errada ratificando o desconhecimento (leia-se preconceito) com os latinos, transformando Buenos Aires em um capital de ritmos caribenhos, finalizado com um diálogo absurdo e reacionário. Em determinada cena personagem de Will Smith pergunta: Bueno Aires é um PAÍS LIVRE não? Sem comentários! (Ainda bem que evitaram mencionar o Brasil, evitando assim a insinuação que nossa capital é a da Argentina, apesar de que a inclusão de Santoro e a formula -1 tenho minhas dúvidas se isso não seria  uma indireta).

Contando com uma resolução ainda mais preguiçosa, “Golpe Duplo” encerra de maneira vaga, algo que jamais se mostrou sólido ou que houvesse intenção de fazer algo além de ruim.

Cotação 1/5

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