O Amor é estranho (Love is stranger)
Direção: Ira Sachs
Elenco: John Lithgow, Alfred Molina, Marisa Tomei, Christina Kirk, Darren E. Burrows e Charlie Tahan
Gratificante para a sociedade, mesmo com todo o preconceito ainda presente, podermos analisar fora do contexto "filmes Gay", obras como “O amor é estranho” sem causar estranheza e não tratando tal abordagem com estereótipos. Entretanto, mesmo que funcione como uma carta aberta contra o preconceito, o longa do diretor Ira Sachs peca por não manter-se fiel a sua proposta ao enfraquecer sua narrativa durante boa parte de sua exibição.
O casal Ben e George (John Lithgow e Alfred Molina) vivem a décadas um relacionamento absolutamente normal como o qualquer casal. Compartilhando seus anseios, pequenas diferenças de personalidades, amigos e parentes sem medo de qualquer de repreensão por quem os cerca. Neste momento podemos destacar a direção que ratifica tal cenário ao conduzir bem a sequência inicial com todos os personagens em cena, criando um clima afetuoso e familiar.
As atuações de John Lithgow e Alfred Molina merecem elogios pela sensibilidade sem jamais cair no caricato, ratificado em pequenos gestos de afeto entre os atores para confirmar todo carinho e cumplicidade entre eles. Mas devido George perder o emprego, o casal não terá mais condições de manter seu padrão de vida e a mudança de ambiente será inevitável.
O desenvolvimento inicial do roteiro do diretor em parceria com do roteirista brasileiro Mauricio Zacharias funciona não por defender uma causa, mas ratificar a intolerância pelo fato de George lecionar música em uma igreja, mas por tornar “público” sua homossexualidade, a instituição resolve afastá-lo por não seguir os “padrões”(mesmo George acreditando em Jesus, o que torna tal abordagem atual. por estarmos numa época que a “busca de Deus por gays” seja permitida pelo Papa).
Infelizmente tal coragem aos poucos vai dando lugar a situações óbvias, um pouco forçadas e até contraditórias pelo roteiro, principalmente no momento que os protagonistas vão viver separadamente com parentes, soando apenas como uma necessidade do roteiro para atender determinada abordagem dramática ou cômica, e, diga-se de passagem, com poucos resultados.
Podemos ratificar tal afirmação no momento que conhecemos alguns destes personagens secundários, que apesar da proposta do filme, peca por alguns serem justamente estereotipados (policiais gays que parecem apenas interessados em protagonizar animadas festas no apartamento) forçando o contraste com o ambiente onde Ben que foi morar com o sobrinho Elliot (Burrows) e a esposa Kate - interpretada por Marisa Tomei, que não precisa se esforçar para criar o conflito necessário entre sua personagem e Ben.
Neste momento o espectador pode se perguntar se realmente era necessária tal decisão por parte do filme, pois além de não soar tão natural a separação, o roteiro trata-os com um casal dividido por anos e não alguns quilômetros de distancia (soando novamente apenas para servir como motivação e carga dramática no reencontro). E mesmo sendo salvo pelo eu elenco “O amor é estranho”, o desenvolvimento ainda é mais um pouco prejudicado, quando insere o contexto no surgimento dos personagens adolescentes , criando uma “leve dúvida” perante a sexualidade de tais elementos sem muita profundidade ou clareza.
Contando com resoluções abruptas e desnecessárias que não mudaria em nada o desenvolvimento da historia, “O amor é estranho” ainda se apega a certos clichês visuais em seu final que desfocam a atenção do espectador, tornando a experiência irregular e comprometendo de vez a narrativa ao abordar um assunto importante e atual.
Cotação 3/5