As Sufragistas
Direção: Sarah Gravon
Elenco: Carey Mulligan, Helena Bonham Carter, Anne Marie Duff, Sarah Finigan, Geoff Bell, Ben Wishaw, Brendan Gleeson e Meryl Streep.
Em tempo de críticas ao feminismo como ato político é deprimente mais de 100 anos depois ainda vermos tantos países somente agora permitindo as mulheres o direito ao voto. Assim é mais do que louvável conhecermos e reconhecermos o pioneirismo, determinação e principalmente coragem daquelas mulheres que faziam parte do movimento das Sufragistas em 1912 numa Londres Pós-revolução Industrial. Movimento este que exigia não somente o direito ao voto feminino como também maior espaço na vida política do país - e que devidos aos seus atos - influenciou durante as décadas seguintes a causa em outros países, inclusive no Brasil que em 1932 homologou o voto feminino.
Mas segundo tal sociedade, tais mulheres em “compensação” são ótimas funcionárias para trabalharem fábricas insalubres, onde eram vistas apenas como pessoas inferiores, vítimas de assédio sexual e sequer tinham a lei a favor quando se referem a guarda dos filhos. Mas claro que isso não é problema, não? Pois os homens são um belo exemplo de racionalidade e equilíbrio. Homens estes que não pensam duas vezes ao covardemente agirem com violência em vez de abrirem espaço para o diálogo (algo bem comum hoje em dia ainda).
Entretanto, mesmo com um assunto com tanto espaço para discussões, a diretora Sarah Gravon e o roteiro de Abi Morgan passam a sensação de não conseguirem trabalhar de maneira completa todos os aspectos da causa e questão, sendo vítimas por vezes de certo maniqueísmos e estruturas típicos de filmes históricos (textos autoexplicativos durantes os créditos finais, por exemplo). Mesmo assim, o longa conta com um reconstituição de época primorosa (que é certo entrar numa disputa por prêmios na academia), e a direção de artes reconstrói Londres de maneira tão perfeita, com suas ruas estreitas e veículos que ao compararmos com as imagens de arquivo não notamos diferença alguma. A fotografia de dessauturada e sem vida realça aquele atmosfera sem vida e opressora daquela sociedade.
A direção é fiel ao material que tem em mãos e talvez por isso seja difícil não se identificar com as ações e motivações da protagonista Maud Watts (Mulligan) que influenciada pela amiga Edith Ellyn (Carter) adere à causa participando dos movimentos e ações que soariam como de pura anarquia (Carey Mulligan tem mais uma boa atuação e consegue equilibrar seu conflito pessoal entre ser mãe e militante política).
Contudo, tal fidelidade pode ser comprometida em parte principalmente quando a personagem Emmeline Pankhurst - vivida por Maryl Streep - surge poucos minutos como uma espécie de Messias que mesmo com toda a representatividade e peso que a atriz tem, soa desconectada do contexto e narrativa, por não ter uma função definida que não ser uma incentivadora para que as outras mulheres assumam os riscos (ainda mais se levarmos em consideração que Emmeline foi uma das fundadoras do movimento). Ficou parecendo que a intenção era mais se aproveitar da presença de Streep que a personagem em si.
Entretanto, se paramos para pensar, os atos cometidos foram os únicos métodos para que aquelas mulheres fossem ouvidas dentro daquela sociedade desigual. Neste ponto o roteiro foi eficiente e cuidadoso ao escalonar de maneira clara os acontecimentos sem que pudessem desqualificar a causas, pois como suas tentativas de diálogo dentro da lei são frustradas e suas ações são motivos claros para serem presas, restam apenas medidas extremas para serem notadas e ouvidas. E mesmo que ainda tenhamos um longo caminho a percorrer na luta contra tais desigualdades, a mensagem foi dada e elas conseguiram atingir seus objetivos.
Cotação 3/5